terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Amas-me

Ama na palavra
Ama na essência
Com a alma
Ama a todo tempo
Fora de tempo
Com todos os porquês
Sem motivo algum
Por amar
Por inteiro
Nua, molhada ou em chamas
Chamas-me de amor

domingo, 20 de outubro de 2013

Um tanto de nada

Desperta. Levanta. Escova. Cospe. Molha. Enxuga. Veste. Café. Chaves. Garagem. Sinal. Seta. Xinga. Chega.Vaga. Freio.
Relógio.
Num dado momento o tempo parou, a mente abriu.
O olho enxergou o que outrora não viu.
Ignorou.
Seguiu.

sábado, 19 de outubro de 2013

"Minha Amada Imortal", Ludwig van Beethoven

Manhã de 6 de julho [de 1812]

Meu anjo, meu tudo, meu ser. Apenas algumas palavras hoje, à lápis (o seu). Até amanhã a minha morada estará definida. Que desperdício de tempo. Por que [sinto] esta tristeza profunda quando a necessidade fala? Pode o nosso amor resistir ao sacrifício, em não exigir a totalidade um do outro? Pode mudar o fato de que você não é toda minha nem sou todo seu? Oh, Deus! Olhe para a beleza da natureza e conforte o seu coração com o que deve ser. O amor exige tudo e com razão. Assim, eu estou em você e você em mim. Mas você se esquece facilmente que preciso viver para mim e para você. Se estivéssemos completamente unidos, você sentiria esta dor tão próxima quanto eu sinto. A minha viagem foi terrível; só cheguei ontem às 4 horas da manhã, uma vez que na falta de cavalos, o cocheiro escolheu um outro caminho, mas que caminho terrível. Na penúltima parada fui avisado para não viajar à noite, fiquei com medo da floresta, e isso só me deixou mais ansioso – e eu estava errado. O cocheiro precisou parar na estrada infeliz, uma estrada imprestável e barrenta. Se estivesse sem os apetrechos que levo comigo teria ficado preso na estrada. Esterhazy, percorrendo este caminho habitual, teve o mesmo destino com oito cavalos que eu tive com quatro. Senti algum prazer nisso, como sempre sinto quando supero com sucesso as dificuldades. Agora uma rápida mudança das coisas externas para as internas. Provavelmente nos veremos em breve, mas hoje não posso compartilhar contigo os pensamentos que tive durante estes poucos dias dias sobre a minha vida. Se os nossos corações estivessem sempre juntos, eu não teria nenhum deles. O meu coração está repleto de coisas que gostaria de dizer-te. Ah. Há momentos que sinto esse discurso não ser nada. Alegre-se. Você permanece [sendo] a minha verdade, o meu tesouro, o meu tudo como eu sou o teu. Os deuses devem nos mandar o restante, aquilo que deve ser para nós e será. Seu fiel Ludwig.


Segunda, noite de 6 de julho [de 1812]

Você está sofrendo, minha querida criatura. Só agora percebi que as cartas precisam ser enviadas nas segundas ou quintas de manhã bem cedo. Os únicos dias em que o correio vai daqui para K. Você está sofrendo. Ah, não importa onde eu estou, você está lá. Eu arrumarei isso entre eu e você para que possa viver contigo. Que vida!!! Assim!!! Sem você, perseguido pela bondade humana, o que pouco quero merecer é o que mereço. A humildade do homem diante do homem me machuca. E quando me considero em relação ao universo, o que eu sou e o que é Ele, a quem chamamos de maior, ainda assim, nisto reside a divindade do homem. Choro ao pensar que provavelmente não receberá a minha primeira carta antes de sábado. Por mais que você me ame, eu te amo mais. Mas nunca se oculte de mim. Boa noite. Devo ir dormir. Oh, Deus! Tão perto! Tão longe! Não é o nosso verdadeiro amor uma construção celestial, mesmo assim é firme como as colunas do céu?


Bom dia, em 7 de julho [de 1812]

Embora ainda esteja na cama, os meus pensamentos vão até você, minha Amada Imortal, agora felizes, depois tristes, esperando para saber se o destino nos ouvirá ou não. Eu só posso viver completo contigo ou não viver. Sim, estou decidido a vaguear assim por muito tempo longe de você até que possa voar para os seus braços e dizer que estou em casa, e poder enviar a minha alma envolta em você ao reino dos espíritos. Sim, isto deve ser tão infeliz. Você será mais contida quando souber da minha fidelidade à você. Outra jamais poderá ter o meu coração, nunca, nunca, Oh, Deus! Por que um precisa estar separado do outro quando se ama. E, no entanto, a minha vida em Viena é agora uma vida miserável. O teu amor me faz ao mesmo tempo o mais feliz e infeliz dos homens. Na minha idade eu preciso de estabilidade, de uma vida tranqüila. Pode ser assim na nossa relação? Meu anjo, acabo de ser informado que o carteiro sai todos os dias. Por isso devo terminar logo para que você possa receber a carta logo. Fique tranqüila, somente através da consideração tranqüila de nossa existência podemos atingir o objetivo de vivermos juntos. Fique tranqüila, me ame, hoje, ontem, desejos sofridos por você, você, você, minha vida, meu tudo, adeus. Oh, continue a me amar, jamais duvide do coração fiel de seu amado.
Sempre teu
Sempre minha
Sempre nosso.

domingo, 13 de outubro de 2013

Fragmento Santo

A luz
Majestosa sedução
Junto à mulher
A razão
Brinco as ideias
Brinco os valores
Como a sutil grandeza do oceano
Refletindo as ondas
As curvas
Os traços
Brilho

terça-feira, 15 de junho de 2010

Meu bonito e meu feio

Meu bonito e meu feio se escondem nessa carcaça
e você só consegue vê-los pelo olho mágico.
A porta do meu coração está sempre trancada,
para que nenhum ladrão roube meu tesouro ou destrua minhas estantes.
Minhas estantes guardam livros e troféus,
trazem lembraças.
E tudo corre rápido como um guepardo atrás duma pobre presa.
São flashes que montam um enorme quebra-cabeça, guilhotina.
Meu bonito e meu feio, só os íntimos pensamentos conhecem,
são velhos amigos de tempos passados, tempos rápidos que viram memórias
e eles estão também nas minhas estantes.
Já é hora de tirar o pó, pois as traças fazem festa.
Meu bonito e meu feio tem medo da claridade, ela vence as trevas que os escondem.
Meu bonito e meu feio são timidos,
eles precisam um do outro e precisam de você, de longe.
Meu bonito e meu feio ninguém vê.

domingo, 23 de maio de 2010

Seu destino era um café antigo a duas quadras dali. Costumava frequenta-lo todo domingo a tarde, mas aquele dia era uma quarta feira de manhã, e chovia mas não havia nuvens no céu, pelo contrário, estava mais azul que seus olhos. Ela não se importava com os muitos pingos gelados que caiam e a encharcava rapidamente. Parecia não ter reparado nesses detalhes.
Vagava em sua mente que, às vezes, podia ser bem assustadora. Sua expressão era de prazer, mantinha um sorriso no rosto e roia as pequenas unhas vermelhas.
Chegou ao café e se dirigiu ao garçom "O de sempre.", pediu com um sorriso maior ainda, mas sem simpatia na voz. Enquanto esperava seu pedido, se sentou numa das mesas. Ali ficou, parada, rodando o anel de prata no polegar esquerdo. Estava imersa em seus pensamentos desorganizados.
Finalmente seu café fumegante chegou, deu um grande gole que queimou a língua, mas não reagiu a dor, continuou parada, olhar fixo na janela grande de vidro que estava a sua frente. Ela via as gotas que caiam do lado de fora, e escorriam pela janela. Essa cena a fez lembrar de 27 de Outubro, uma noite fria de inverno, chovia sem cessar e as gotas chicoteavam as janelas de sua casa. Ela estava sozinha sentada no sofá de frente para a tv desligada, sem receber noticia alguma de seu irmão mais velho que havia saído pela manhã.
Quebrando o silêncio que pairava a casa, o telefone tocou, ao atender, uma voz rouca disse do outro lado "Está feito." , e sem dar alguma resposta desligou com uma expressão de satisfação, o mesmo sorriso que tinha agora.

sábado, 15 de maio de 2010

Chorei

Eu observava cada movimento do rio na sua dança sensual pelas margens.O pôr do sol se refletindo desfigurado na superfície.
Parecendo cena de filme clichê e, conscientmente ou não, pensando na pedra que estava no meio do caminho. Não era a de Drummond.
Sentindo-me um fraco, vulnerável. Chorei. Chorei.
Chorei porque não controlo minhas emoções, elas vem como um exército, todas juntas atacando estrategicamente. Me derrama. Me derruba.
Me derruba a chorar. Chorei.
Chorei lágrimas de alegria, de tristeza. Lágrimas de decepção e dor, também de saudade, raiva e temor.
Chorei.