domingo, 23 de maio de 2010

Seu destino era um café antigo a duas quadras dali. Costumava frequenta-lo todo domingo a tarde, mas aquele dia era uma quarta feira de manhã, e chovia mas não havia nuvens no céu, pelo contrário, estava mais azul que seus olhos. Ela não se importava com os muitos pingos gelados que caiam e a encharcava rapidamente. Parecia não ter reparado nesses detalhes.
Vagava em sua mente que, às vezes, podia ser bem assustadora. Sua expressão era de prazer, mantinha um sorriso no rosto e roia as pequenas unhas vermelhas.
Chegou ao café e se dirigiu ao garçom "O de sempre.", pediu com um sorriso maior ainda, mas sem simpatia na voz. Enquanto esperava seu pedido, se sentou numa das mesas. Ali ficou, parada, rodando o anel de prata no polegar esquerdo. Estava imersa em seus pensamentos desorganizados.
Finalmente seu café fumegante chegou, deu um grande gole que queimou a língua, mas não reagiu a dor, continuou parada, olhar fixo na janela grande de vidro que estava a sua frente. Ela via as gotas que caiam do lado de fora, e escorriam pela janela. Essa cena a fez lembrar de 27 de Outubro, uma noite fria de inverno, chovia sem cessar e as gotas chicoteavam as janelas de sua casa. Ela estava sozinha sentada no sofá de frente para a tv desligada, sem receber noticia alguma de seu irmão mais velho que havia saído pela manhã.
Quebrando o silêncio que pairava a casa, o telefone tocou, ao atender, uma voz rouca disse do outro lado "Está feito." , e sem dar alguma resposta desligou com uma expressão de satisfação, o mesmo sorriso que tinha agora.

sábado, 15 de maio de 2010

Chorei

Eu observava cada movimento do rio na sua dança sensual pelas margens.O pôr do sol se refletindo desfigurado na superfície.
Parecendo cena de filme clichê e, conscientmente ou não, pensando na pedra que estava no meio do caminho. Não era a de Drummond.
Sentindo-me um fraco, vulnerável. Chorei. Chorei.
Chorei porque não controlo minhas emoções, elas vem como um exército, todas juntas atacando estrategicamente. Me derrama. Me derruba.
Me derruba a chorar. Chorei.
Chorei lágrimas de alegria, de tristeza. Lágrimas de decepção e dor, também de saudade, raiva e temor.
Chorei.